Dom Casmurro

Por MACHADO DE ASSIS

Código do livro: 293850

Categorias

Drama, Ficção e Romance, Literatura Nacional, Antigo, Clássico E Medieval, Australiano E Oceânico, Shakespeare

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Sinopse

CAPÍTULO PRIMEIRO / DO TÍTULO

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei num trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

-- Continue, disse eu acordando.

-- Já acabei, murmurou ele.

-- São muito bonitos.

Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: "Dom Casmurro, domingo vou jantar com você."--"Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renania; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo."--"Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, doulhe cama; só não lhe dou moça."

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração - se não tiver outro daqui até ao fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

CAPÍTULO II/ DO LIVRO

Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão.

Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia. há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Mata-cavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do tecto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos blocos, de espaço a espaço. Nos quatro cantos do tecto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens.

Quando fomos para a casa de Mata-cavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mais falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo. O que aqui está é, mal comparando, semelhante à pintura que se põe na barba e nos cabelos, e que apenas conserva o hábito externo, como se diz nas autópsias; o interno não agüenta tinta. Uma certidão que me desse vinte anos de idade poderia enganar os estranhos, como todos os documentos falsos, mas não a mim. Os amigos que me restam são de data recente; todos os antigos foram estudar a geologia dos campos-santos. Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras de menos, e quase todas crêem na mocidade. Duas ou três fariam crer nela aos outros, mas a língua que falam obriga muita vez a consultar os dicionários, e tal freqüência é cansativa.

Características

Número de páginas 238
Edição 1 (2019)
Formato A5 (148x210)
Acabamento Brochura c/ orelha
Coloração Preto e branco
Tipo de papel Offset 90g
Idioma Português

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Fale com o autor

MACHADO DE ASSIS

Evan do Carmo, nascido em 29 de abril de 1964, na Paraíba, é um renomado poeta, escritor, romancista, jornalista, músico, filósofo e crítico literário brasileiro. Sua carreira é marcada por uma diversidade de talentos e contribuições para a literatura e cultura.

Desde cedo, Evan demonstrou sua paixão pelas palavras e pela expressão artística. Fundou e dirigiu o jornal Fakos Universitário, desempenhando um papel importante na disseminação de informações e ideias. Em 2009, criou a revista Leitura e Crítica, uma plataforma dedicada à análise e discussão da literatura contemporânea.

Com um impressionante catálogo de 30 livros publicados, sua obra tem alcançado leitores em 12 países, incluindo uma edição em inglês intitulada “O Moralista”. Entre suas obras estão “O Fel e o Mel”, “Heresia poética”, “Elogio à Loucura de Nietzsche”, “Licença Poética”, “Labirinto Emocional”, “Presunção”, “O Cadafalso”, “Dente de Aço”, “Alma Mediana” e “Língua de Fogo”. Além disso, Evan também contribuiu com vários contos em antologias literárias, demonstrando sua versatilidade como escritor.

O reconhecimento por sua escrita notável veio em 2005, quando foi um dos vencedores do concurso Machado de Assis do SESC DF. Em 2007, teve a honra de ser jurado na categoria de contos do concurso Gente de Talento 2007, promovido pela Caixa Econômica Federal, ao lado de Marcelino Freire.

Para além de suas habilidades literárias, Evan do Carmo também é um estudioso dedicado da obra do renomado escritor português José Saramago. Em 2015, publicou o livro “Ensaio Sobre a Loucura” e “Reflexões de Saramago”, uma obra que oferece um panorama perfeito na voz do próprio Saramago, em forma de ficção ensaísta, sobre a obra do Nobel Português.

Com o intuito de impulsionar outros talentos literários, Evan do Carmo fundou em 2016 a Editora do Carmo, realizando o sonho de mais de 500 autores, muitos dos quais não tinham recursos para publicar suas obras. Entre esses autores, destacam-se dezenas de poetas e escritores africanos de Angola e Moçambique, proporcionando uma plataforma para a divulgação de suas vozes e culturas.

Além de suas contribuições como escritor e editor, Evan do Carmo também compartilha seu conhecimento e experiência por meio de palestras e oficinas literárias. Sua dedicação em promover a literatura e ajudar outros escritores a alcançarem seus sonhos é evidente em sua atuação.

Evan do Carmo, com seu talento multifacetado e sua paixão pela literatura, continua a enriquecer a cena literária brasileira e a criar oportunidades para uma diversidade de vozes serem ouvidas. Sua dedicação incansável à escrita e ao apoio aos escritores emergentes o tornam uma figura inspiradora e um exemplo notável no campo literário. Para aqueles interessados em entrar em contato com ele para palestras e oficinas literárias, Evan do Carmo pode ser alcançado no número (61) 981188607.

Nome do link: evandocarmo.com

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