Daí veio a compreensão de tudo: se a vida fosse uma fotografia, o meu pai teria apenas captado para si o negativo dela. A autobiografia que ora tinha em mãos não era um mero retrato de uma vida, mas o que de pior e cinza escuro poderia ser retirado dela. Como se ele, ao escrever a sua história, deixasse no manuscrito, aprisionado, tudo que fosse mau e negativo.
Mas não era possível fazer, com isso, que toda essa coisa não ficasse explícita e perturbadora até para os que faziam parte de sua vida. Tudo nele era construído para se deprimir ainda mais, como uma estrela pesada mesmo que consome rapidamente o seu material de queima e vem colapsar-se em si mesma. Levando, inclusive, tudo a sua volta.
Naquele dia, aliás, tendo o meu pai já saído, minha esposa ficou um pouco angustiada, a princípio talvez pela dúvida de ter deixado boa impressão. Hoje eu diria a ela que, independente do que lá ocorresse, ele não poderia levar nada do que estivesse já intrinsecamente arraigado dentro de si. E também deixado em nós.
ISBN | 9798857197936 |
Número de páginas | 142 |
Edição | 1 (2023) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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