APRESENTAÇÃO
Por mais curioso, estranho, absurdo e paradoxal que possa parecer, nasci de um útero de pedra. A mais tênue lembrança que me veem à memória entrecruza a alguma experiência de pedra.
Isto significou para mim, desde muito cedo, como único projeto de vida possível (e alcançável), um viver pela educação da pedra.
Oficialmente, nasci na primavera de sessenta e seis, diz isto, ou melhor, testifica o registro civil; contudo, fui gerado muito antes.
A minha alma traz traços vulcânicos de remotas eras das quais eu mesmo não sei, só tenho leves lembranças, no entanto, quando vem-me me encontra violentamente ativo ou, silenciosamente perigoso.
Por isto, pouquíssimo caso faço dos meus nódulos de pedra.
Pensando nisto, nestas vivências de pedra que o cotidiano doméstico ou o viver burocrático exuma para além de nossos labirintos sentimentais é que resolvi escrever o meu “Útero de Pedra”.
Afinal de contas, um poeta tem sempre mais de Ícaro que de Dédalo. Tem sempre uma estruturação a ser inventada ou, um cenário imaginário a verbalizar.
“Útero de Pedra” é, acima de tudo, uma busca incessante por verdades que, por algum motivo ou circunstâncias, tinham sido deixadas de lado, tinham sido relegadas ao esquecimento, mas que sempre emergem em momentos de solidão e dor.
“Útero de pedra” foi escrito nestes dias difíceis em que passo. Quando digo ‘difíceis’ é bom que se explique: Papai, meu âncora para toda a vida, meu exemplo a ser seguido, meu guardião desde meus tempos de menino resolveu que estes dias era uma boa hora para se deixar esta baixa terra e ir correr em outras pradarias, de galopar pelos campos sagrados de Deus. Resolveu me deixar quando mais eu precisava dele.
Quantas dúvidas, quantas interrogações, quantas vivências ainda a ser vivida. Mas, tudo isto, nestes dias difíceis em que passo é matéria para memória. É semente lançada ao vento outonal, é imagem gravada para futuras lembranças. É sol que ainda não me está posto.
Foi passando por momentos tão difíceis que terminei de compor este “Útero de pedra”. Não sei se outro título cairia tão bem. Se outro título sugestionaria tão bem a dor que sinto em meu peito, o vazio que corta a minha entranha.
Não conheço os propósitos de minha poesia, ela é dona de si mesma, quando a lanço ao papel ela caminha por conta própria, toma direções opostas ao meu querer.
Talvez por isto nasceu “Útero de pedra”. Ela (a poesia) me conhece tão bem, às vezes mais que eu mesmo. Conhece a minha vivência e as minhas ausências. Conhece-me e me faz conhecer. E, certamente, ela sabe dos dias difíceis em que passo. Sabe que estes dias em que termino o “Útero de pedra” são dias em que eu mesmo me queria petrificado.
Eu tinha combatido todos os meus melhores combates e imaginava que minha carreira estivesse completa, contudo, ainda não tinha me guardado da poesia. Ela ainda permeava, esperançosamente, insoluvelmente, em minha alma de poeta.
E assim nasceu o “Útero de Pedra”. Em cada linha, em cada verso, em cada poema do livro há uma infinita necessidade de construção poética. Há nele, no Útero de Pedra, toda a indumentária de um vestíbulo decorrente de uma vida e de sua inequívoca petrificação.
Há nele um homem que se veste de pedra antes mesmo de seu nascimento.
O autor
ISBN | 978-1983577338 |
Número de páginas | 108 |
Edição | 1 (2018) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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