Recordações de uma Colonial

Fernanda do Vale (c. 1877–1927) é o pseudônimo literário de uma cabo-verdiana que superou diversas desventuras amorosas, mudando-se para Lisboa no início da juventude. Lá, ela se tornou uma figura notável na alta sociedade lisboeta da virada do século XX. Organizadora de concorridos salões e dona do bordel mais famoso da cidade, frequentados por políticos, nobres e celebridades da época, Fernanda desafiou conceitos de gênero, raça, sexualidade e colonialismo.

Esta autobiografia ficcionalizada, publicada pela primeira vez em 1912 e redescoberta recentemente pelos estudiosos da literatura colonial, revela as raízes, a trajetória acidentada e a ambição “civilizadora” de Fernanda. Ela oferece uma visão única da vida de uma mulher navegando as regras sociais da metrópole e deixando sua marca na capital portuguesa, mas cuja obra foi injustamente esquecida pela história da literatura negra e feminina.

“Recordações de uma Colonial” é um Bildungsroman (romance de formação) que encoraja os leitores brasileiros a reimaginar o papel dos africanos na sociedade portuguesa do início do século passado. Editado pela primeira vez no Brasil e adaptado para uma linguagem mais moderna e sensível do que o original, este livro é um tributo à memória de uma das coquetes mais importantes de Portugal.

Esta edição inclui ainda um posfácio da editora, apresentando as mais recentes análises de pesquisadores sobre o livro, e notas com insights históricos e culturais. Muitos consideram esta autobiografia condenatória, paródica e irônica, mas ainda assim relevante para a crítica pós-colonial da imaginação colonial nas sociedades e culturas lusófonas da virada do século.