No início de 2020 o mundo estava prestes a enfrentar uma pandemia que iria ceifar a vida de mais de meio milhão de brasileiros por conta de políticas negacionistas que, num primeiro momento, tratou a grave ameaça como sendo uma “gripizinha”, para depois ignorar a necessidade de vacinas e medidas preventivas, culminando em uma CPI que revelaria um esquema de corrupção para desviar milhões de dólares do dinheiro público, envolvendo empresas privadas, agentes públicos e até mesmo o alto escalão do governo federal.
Em meio a todo esse caos, muitos não mediriam esforços para abrandar a dor e o sofrimento, inclusive colocando suas vidas em risco, como é caso dos profissionais de saúde que atuaram na linha de frente para combater a pandemia, tendo contra seus esforços o próprio governo do seu país.
Foi nesse contexto que, após a minha participação em um congresso de Arte, em Paris, durante minha volta para casa, tive que aguardar algumas horas no aeroporto para pegar o próximo voo.
Lembro-me que o aeroporto estava cheio e que havia poucas mesas disponíveis no restaurante. Levei um tempo para conseguir me acomodar e fazer o meu pedido. Foi quando vi um senhor já com idade avançada procurando um lugar. Assim que ele se aproximou, eu disse que estava sozinho na mesa e lhe ofereci um lugar. Ele aceitou e educadamente se apresentou. A partir daí teríamos algumas horas de uma boa conversa, enquanto ambos aguardávamos nossos voos. Naquele momento ele começaria a contar a sua história, uma história de preconceito e discriminação que ele mesmo deixara claro que não era só sua, mas de milhões de pessoas pelo mundo a fora, vítimas de uma cultura secular de ódio, que se fundamentava na defesa da família, religião, moral e bons costumes.
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