A poesia é, fundamentalmente, ficção. Na criação de Fábio José Vieira (Pratinha), pelo seu universo personalíssimo e recorrente na abordagem sentimental, ele paira em algum lugar desconhecido que se encontra enraizado nos seus sentimentos mais íntimos. Nota-se que há muito de autoficção, a qual responde aos seus desejos, primeiro de tecer loas a uma musa por vezes etérea e, por outras, meio que timidamente real, sem comprometer-se com a identificação reveladora do seu objeto inspirador. Às vezes parece que o Pratinha andou descobrindo uma mina de elementos aproveitáveis para um amor tão amplo que nem mesmo ele alcança ou não quer qualificar como algo verdadeiro, talvez para que não venham salteadores se aproveitar dessa inexplicável mina. Nela está um manancial que brota a céu aberto, mas o poeta reluta em cavar mais fundo, ficando numa superfície que lhe é suficiente para viajar nesta zona de conforto, sem despertar olhares autóctones surgindo para espreitar os seus fundamentos tão vigiados.
Esta vertente é meio nova, na literatura poética, dificultando uma qualificação adequada, pois está num patamar de inspiração e escrita desligado de ícones, conceitos e cânones. Pode até ser que o Pratinha não queira mesmo revelar-se nitida e universalmente, resguardando-se de quaisquer influências possíveis de virem a macular o seu território inspiracional. Assim se apega aos seus pensamentos, haja vista de que dão ideia de que o que escreve é para uma única pessoa, sendo até temerária, para si, uma tiragem ou busca maior. Entretanto, está publicando em profusão.
Freud disse que lá onde chega a ciência, os poetas já estiveram anteriormente. Traduzindo melhor a ideia: Quando a ciência chega, o poeta já foi e voltou com os bolinhos prontos.
Em tempos de interferências tão avassoladoras dos dominadores do mundo, em todas as áreas, não raramente encontramos desígnios programados para interferi na literatura e nas artes, a ponto de engendrarem robôs para substituir os poetas. Então nos retraímos e tememos, inclusive, que estes robôs invadam a nossa criação, copiando nossos textos, até plagiando-nos e os assinando com um nome de X9poetry, por exemplo. Quem ainda não viu a nova linha do Facebook, denominada Meta, procure informar-se, porque a literatura e as artes serão apropriadas pelo poder econômico e institucional da exploração através da máquina informática.
Escritores que estão criando, mesmo fora do conceito universal, são uma espécie de resistência à dominação. Todos correm o perigo de que seus escritos sejam utilizados pela pirataria das plataformas de dominação. Pratinha está criando. Como tantos. Isto é um bom movimento. Mas precisamos chegar com os bolinhos prontos, antes dessa grande revolução da inteligência artificial, a se apossar de tudo, colocando as artes e os artistas dentro de uma realidade virtual avassaladora, que a nós não pertencerá.
Com 20 livros publicados, sob a minha égide cultural, Pratinha chega, no século 21, ano de 2021, com o livro 21, sendo este “Nas asas de um sonho”, o melhor, do ponto de vista qualitativo e numa linguagem poética que se apresenta melhor adequado às exigências deste tempo que gravita nos braços cibernéticos. Isto é a resistência necessária, por enquanto. Mas precisamos todos, correr com os nossos bolinhos, antes que a ciência chegue e nos faça exilar-nos nas montanhas. (Luciana Carrero, produtora cultural, reg. 3523, SEDAC / RS
Número de páginas | 160 |
Edição | 1 (2021) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Couche 90g |
Idioma | Português |
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