É CLARO QUE EU TÔ A FIM
Tom Correia
Uma mesa de bar, chuva fina que escorre lá fora e acordes de rock brazuca são os componentes do cenário ideal dos microcontos de Ediney Santana e Herculano Neto. Parceiros de antigas datas, sem jamais se renderem diante de contextos literários que engessam a criatividade, a dupla reuniu o que havia de mais contundente para inaugurar a Laetitia Digital.
Assim, através de minúsculas histórias desfiadas ao longo do livro, somos convidados num primeiro instante a expandir nossa imaginação, fruindo a verve autoral que nos expõe suicidas metafóricos, delírios de um homem que odiava gravatas borboletas, homens-toupeiras, figuras que se refugiam em árvores, indivíduos combalidos que se transformam em peixes nadando em rios assassinados por metais pesados. Na verdade trata-se de um convite-ameaça: leiam-nos ou nos odeiem.
Canibais de nós mesmos, como escreveram um dia Cazuza-Frejat-Ezequiel, viramos página após página na ânsia de encontrar outros devaneios. Engano. Nos deparamos com tipos solitários de vidinhas ordinárias, desempregados crônicos e transexuais operadas que perambulam sob matizes urbanos não raro hostis, não raro o que se vê nas ruas todos os dias.
As doses literárias que ganhamos do fertilíssimo dueto são inebriantes na medida exata: ao final do volume, nos levantamos trôpegos mas ainda conseguimos a façanha de chegar em casa sem extraviar a alma no caminho. A chave vira, chegamos ao sofá (talvez velho, muito velho) e com a fala enrolada suplicamos aos garçons-escritores: mais uma dose, antes que a terra nos coma.
Tom Correia
Jornalista
Número de páginas | 94 |
Edição | 1 (2013) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 90g |
Idioma | Português |
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