O que faz alguém ser atraído pelos mortos? Considerando que os vivos são tão complexos e surpreendentes, o que faz deles pessoas perigosas dado o alto grau de possibilidades, o corpo morto se comporta em uma estabilidade confiável, a passividade dos defuntos produz nos vivos um sentimento no mínimo de previsão máxima de comportamentos, vez que a passividade dos mortos é óbvia e talvez aí se explique aquela espécie de estupor, que as pessoas apresentam nos velórios ao redor do morto. O fato é que conhecemos as pessoas pelo movimento, através das suas ações, e pensamos conhecer os mortos exatamente pela inação. Assim, João Papa Defunto, sempre era mais um ali nos velórios, com a diferença de se apresentar sempre atento aos mortos como se penetrasse profundo nos seus mundo de sombras e enigmas. O que as pessoas viam como morte, João Papa Defunto parecia ver vida. Era como se cada morto, na sua quietude eterna, avivasse João papa defunto, entre um velório e outro. Aquele homem que pouco revelava da sua vida privada, parecia viver apenas para velar mortos. Para uns era agourento e para outros um homem prestador de serviços meritórios, e para outros ainda um santo envido de Deus. João Papa Defunto era sozinho, parecia surgir do nada quando alguém morria, não tinha uma casa fixa, não tinha família e não trabalhava. A casa de João Papa Defunto era todas as casas onde haviam velórios.
Número de páginas | 20 |
Edição | 1 (2023) |
Formato | Pocket (105x148) |
Acabamento | Brochura s/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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